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O presente trabalho constitui-se num estudo comparativo de casos que procura analisar o processo de constituição e desenvolvimento de cooperativas de produção coletiva de trabalhadores rurais vinculadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Objetivou-se identificar as contradições que estabelecem limites e possibilidades de desenvolvimento de quatro cooperativas situadas na Região Sul do Brasil. Os dados foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas e pela aplicação de 46 questionários, além da coleta de informações nos registros e documentos das cooperativas. A análise dos dados utilizou-se de procedimentos quantitativos (estatística descritiva e análise de correlação) e qualitativos (análise de conteúdos e documental). A pesquisa constatou que as cooperativas coletivas apresentam um desenvolvimento social significativo, tendo seus associados alcançado conquistas importantes como: melhoria das condições de moradia, saneamento básico, saúde, nível de escolarização, incremento gradativo na renda monetária, descanso anual (em alguns casos remunerado), auxíliogestação, e auxílio-doença. Esses dados adquirem um significado maior porque, no mesmo período, pioraram as condições de vida no meio urbano e rural no Brasil, para a ampla maioria da população. A pesquisa evidenciou que a evolução dos indicadores sociais se dá na medida em que os coletivos recebem financiamentos subsidiados do governo federal e investem em atividades geradoras de renda e ocupação da força de trabalho disponível nos coletivos, o que denota a importância dessa forma de apoio a fim de assegurar o desenvolvimento sócioeconômico dos assentamentos da Reforma Agrária. A análise dos dados empíricos evidenciou ainda que as cooperativas de produção coletiva utilizam-se de mecanismos democráticos de gestão, os quais asseguram ampla participação dos associados na definição das normas de funcionamento, das metas de desempenho e das suas políticas internas, configurando a forma de gestão adotada como autogestão ao nível da unidade de produção. A análise econômica mostrou, no entanto, que essas organizações enfrentam sérias deficiências em termos de: capacidade de geração de receitas, aproveitamento eficiente da força de trabalho disponível, remuneração dos fatores de produção, e geração de excedentes que possibilitem sua reprodução enquanto unidade produtiva capaz de competir com empreendimentos capitalistas congêneres. Constatou-se também, a existência de contradição entre os ideais autogestionários e socialistas que inspiram essas experiências e a prática do assalariamento de trabalhadores não associados por parte de duas das cooperativas estudadas. Devido a fatores históricos e conjunturais essas organizações passaram a empregar o assalariamento como condição para sua reprodução. Também foram identificados certos paradoxos organizacionais que, no momento, não representariam riscos para o desenvolvimento dessas experiências autogestionárias, mas que futuramente poderão se converter em contradições principais. O estudo mostra que, sem enfrentar e superar as contradições principais, os coletivos não terão como assegurar a sua continuidade enquanto experiências autogestionárias de inspiração socialista.